RITO DE PASSAGEM
Estou sentada dentro do meu aquário vendo as nuvens passarem.
Lá fora, chove e depois faz sol. Atenta ao movimento dos
astros, me enterneço.
Sou visitada por pássaros, borboletas e até um eventual urubu.
Vêm e vão. Comigo, permanecem apenas as plantas e os animais domésticos, domésticos como
eu.
Mas abaixo de toda essa aparente calmaria existe uma selvagem
belicosa, ansiando por grandes espaços e montanhas rudes, por cachoeiras de água
gelada e animais que não se curvam ao homem. Coisa que São. Essa porção intacta
se esforça para ganhar terreno em um mundo codificado entre o bem e do mau, o
certo e o errado, o bonito e o feio... e ir além dele. A cada dia,
secretamente, eu me preparo para subir as escadas, saltar os muros e avançar. Esse
ser beligerante não pode ser contido entre quatro paredes nem em lugar nenhum. Meus
objetivos, meus projetos de ano novo? Ir Mais Longe, mais longe até do que
jamais imaginei. Reúno energia para romper com o passado e despir roupas
antigas que me impedem de respirar, as tais lealdades à tristeza, ao modesto,
ao diminuto.
Os grandes espaços me chamam. E eu, peço ao universo que me
estenda a corda e puxe. Estou agarrada a ela e pronta para começar a jornada. Agora.
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