quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Esfinge interior


A intensa poesia de Ana Amorin descreve com perfeição os caminhos (e descaminhos) de avançar corajosamente para ser cada vez mais consciente. Decifrar-se para sobreviver. Sobreviver à banalidade, ao esquecimento, ao cotidiana que nos cega e se sobrepõe à alma.
Decifrando-nos podemos resgatar nosso poder pessoal e optar por uma vida mais autêntica e significativa. Ah, mas há um preço a  pagar... Jornadas interiores são jornadas de heróis. E por que ser menos do que isso?


A que destino nos levam nossas incertezas?
Como sabê-lo,
se sequer compreendemos se há um destino traçado,
ou se o desenhamos caprichosamente
com os nossos passos.

Ou com a ausência deles,
quando a incerteza nos invade
e os contornos ficam borrados,
quando olhamos no espelho e nos surpreendemos
por não reconhecermos a própria face.

E assim sendo,
tão pouco reconhecemos a face alheia
por mais que antes a tivéssemos clara
de tanto repassá-la na lembrança,
reavivando-a a cada sonho e a cada devaneio.

Mas há um engano!
Esquecemos que participamos
de um baile de mascarados
e que pretenciosamente supomos conhecer
o que se esconde por detrás das máscaras.

Decifra-me ou devoro-te, desafia a esfinge
desafia o olhar envolto no mistério,
desafia  a dor e o desejo de um homem,
o corpo trêmulo, a respiração ofegante,
a própria imagem refletida no espelho.


Decifra-me ou devoro-te, impõe minha alma,
o passado, a vida, meu inconsciente,
meu corpo de dor, teu corpo de dor
em coro dizem prá mim
decifra-me ou devoro-te!


Para nós, homens pela metade
meias mentiras, meias verdades,
de tudo um pouco, muito do nada,
do amor só o rastro, do sonho o gosto,
da completude o desgosto por tanta ilusão!




Ana Stancato Amorin

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