A Lança
Por fim, cansado de vê-la resistir o Guerreiro desafiou-a para uma luta. Ela aceitou surpresa e empenhou-se desafiadoramente. Lutava segurando uma lança de duas pontas, gritava e se agitava muito. Quando percebeu a inutilidade de seu esforço quebrou a lança no meio e arremssou-a ao chão, com uma fúria quase infantil. O Guerreiro parou imediatamente e com impassibilidade falou:
_ Você tem que parar de quebrar a lança.
A índia silenciou. Era a primeira vez que fazia aquilo. Primeira? Em sua memória vieram cenas e mais cenas de ocasiões em que havia desisitido, abandonado um projeto, deixado de acreditar em um ideal ou até em uma pessoa. Ela tinha "quebrado a lança" inúmeras vezes, parado no meio do caminho e recusado a continuar, preferindo se sentir frustrada ou incapaz.
_ Mesmo que você não possa mais agir fisicamente, em sua mente você pode continuar avançando. Mesmo se estivesse paralizada poderia caminhar através do Sonho. Mantenha a mente em foco.
Toda a irritabilidade e inconformismo da jovem indígena haviam desaparecido. Concentrada, observava cada movimento do Guerreiro.
Ele fabricou outra lança e entregou-lhe. Ela tinha apenas uma ponta e um enfeite na outra.
_ O seu caminhar não pode ser ida e volta. Você tem que saber para onde vai e ir adiante. Saiba o que quer fazer e faça. A desistência não faz mais parte do caminho.
O Guerreiro desapareceu. E a jovem índia segurando sua nova arma ficou muito tempo pensando. Tinha compreendido. O tempo das desculpas havia acabado. Era preciso adentrar a mata e alcançar seu lugar no mundo.
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