sábado, 28 de abril de 2012


A Lança

A jovem índia tinha três mestres: o Xamã, o Sábio Ancião e o Guerreiro. Embora estivesse evoluindo, muitas vezes falhava e se envolvia em disputas vazias ou sentia o coração pesar de ressentimento. Aquele fora um desses dias. Seus mestres não a pouparam e ela ouvia desgostosa que havia errado.
Por fim, cansado de vê-la resistir o Guerreiro desafiou-a para uma luta. Ela aceitou surpresa e empenhou-se desafiadoramente. Lutava segurando uma lança de duas pontas, gritava e se agitava muito. Quando percebeu a inutilidade de seu esforço quebrou a lança no meio e arremssou-a ao chão, com uma fúria quase infantil. O Guerreiro parou imediatamente e com impassibilidade falou:
_ Você tem que parar de quebrar a lança.

A índia silenciou. Era a primeira vez que fazia aquilo. Primeira? Em sua memória vieram cenas e mais cenas de ocasiões em que havia desisitido, abandonado um projeto, deixado de acreditar em um ideal ou até em uma pessoa. Ela tinha "quebrado a lança" inúmeras vezes, parado no meio do caminho e recusado a continuar, preferindo se sentir frustrada ou incapaz.

_ Mesmo que você não possa mais agir fisicamente, em sua mente você pode continuar avançando. Mesmo se estivesse paralizada poderia caminhar através do Sonho. Mantenha a mente em foco.

Toda a irritabilidade e inconformismo da jovem indígena haviam desaparecido. Concentrada, observava cada movimento do Guerreiro.
Ele fabricou outra lança e entregou-lhe. Ela tinha apenas uma ponta e um enfeite na outra.

_ O seu caminhar não pode ser ida e volta. Você tem que saber para onde vai e ir adiante. Saiba o que quer fazer e faça. A desistência não faz mais parte do caminho.

 O Guerreiro desapareceu. E a jovem índia segurando sua nova arma ficou muito tempo pensando. Tinha compreendido. O tempo das desculpas havia acabado. Era preciso adentrar a mata e alcançar seu lugar no mundo. 

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